sábado, 17 de janeiro de 2009

Estar radialista. Não. Ser radialista


Estar radialista. Não. Ser radialista


Lembro-me até hoje. Meu pai tinha um rádio AM gigantesco. De ondas curtas, médias, longas e outras mais. Lembro que à noite, no quartinho da despensa de nosso apartamento em Passo Fundo, meu pai ligava o rádio para escutar a rádio gaúcha de Porto Alegre. Não sei se foi ali, mas acredito que sim, que começava a brotar uma paixão que levo até hoje pelo rádio.

O rádio é mágico, teatral. Roquete Pinto, fundador da primeira emissora de rádio do país, definiu o rádio assim:

“O rádio é o jornal de quem não sabe ler; é o mestre de quem não pode ir à escola; é o divertimento gratuito do pobre; é o animador de novas esperanças; o consolador do enfermo; o guia dos sãos, desde que o realizem com espírito altruísta e elevado”.

Para ser radialista, você tem que ser um artista. Um malabarista das palavras. Trapezista das frases. Mágico nas interpretações. A voz. Foi-se o tempo que voz de veludo era essencial para ser radialista. Ela ainda é chave de muitas portas. Mas, conteúdo, inteligência, criatividade e certo dom teatral, hoje, são os instrumentos para um bom locutor.

Talvez por isso faça jornalismo. O rádio é meu vício. Minha heroína. Estou viciado no rádio. O som corre em minhas veias, como um narcótico entorpecente. O rádio entorpece, faz sonhar, faz imaginar. Saber que as pessoas te ouvem, que esperam a informação da tua voz. Que te preferiram no DIAL dos seus receptores. É uma honra. E uma tremenda responsabilidade.

Todo mundo tem um rádio. Até o morador de rua tem um rádio. Ele não tem casa. Mas faz do rádio sua morada, onde escuta seu companheiro todas as noites, para saber como foi o dia. O rádio acompanha o solitário. Alegra o deprimido. Estimula o notívago. Balança o berço do trabalhador. Põe para dormir o estudante.

É o auxiliar de cozinha da dona de casa. Faz companhia para o passageiro do ônibus. É o tranqüilizante do motorista na hora do ‘rush’. É bálsamo para os sequiosos por informação. É o DJ particular, 24 horas por dia, sete dias por semana, 365 dias por ano.

O rádio não tira férias, não adoece nem se aposenta. O rádio é vivo. E suas vozes. Bem, suas vozes são sua alma. Rádio e radialista são um único ser. Simbiose perfeita. Corpo e alma. Por isso, impossível estar radialista, mágico é ser radialista.

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