terça-feira, 2 de março de 2010

O objetivismo estético do supermercado






É no supermercado que a gente nota as diferenças entre os seres de Marte e Vênus. Nesse ambiente decorado por gôndolas e balcões refrigerados é possível analisar friamente (com o perdão do trocadilho) os gostos e desejos de homens e mulheres.

Ora, homens são objetivos, mulheres são estéticas. Enquanto elas observam uma tábua de passar in-dis-pen-sá-vel à decoração da sala de estar, eles rebatem sobre a real utilidade do móvel. Afinal, o espaço que uma tábua de passar com gavetas e portas para guardar roupas ocupa é simplesmente enorme. Os setores reservados à ala masculina no supermercado resumem-se ao açougue e às ferramentas. O restante do ambiente foi minimamente desenhado para o consumo feminino. Desde as plantas até o arroz com feijão. Cabe a eles objetivar a lista de 30 itens que se transformarão, no mínimo, em 45.

Dia desses observava um casal que escolhia um varal de roupas. Ela discorria sobre a beleza de um varal de teto e que o preço do mesmo refletia a estética diferenciada. Enquanto isso, ele retrucava mostrando a ela um varal de chão, mais em conta, maior, de alumínio, mais duradouro, mas não tão belo. Pronto. Motivo para discussão inflamada com direito à platéia segurando berinjelas e tomates nas fileiras de frutas e verduras. A mulher quando vai ao mercado não espera praticidade ou utilidade nos produtos que coloca no carrinho. A mulher vai ao supermercado como se fosse a uma joalheria no shopping. Escolhe a jóia mais bonita, mais vistosa. Compra por prazer, por beleza, por estética.

O homem é prático, avalia todas as possibilidades de um produto, a relação custo benefício. Homem vai ao supermercado com uma lista de 30 itens, sai de lá com 30 itens, ou menos. Ele escolhe os produtos como quem compra um carro novo, praticidade, economia, utilidade e se der, design. Não raro, casais andando separados no supermercado, ele, geralmente à frente, acelerando o tempo despendido nas compras. Ela, pacientemente olha, pega, troca, olha de novo, experimenta, olha de novo, pega. Até que decide o que levar. Quando leva. Uma lata de ervilha tem o mesmo poder de um vestido novo. Tem que observar a lata, as cores, o que diz o rótulo.

Mulher compra por emoção. Homem, por razão. Mulher embeleza o carrinho. Homem torna-o prático. Mulher quer a jóia, homem o carro novo.

Já vi casamentos se desfazerem em supermercados. Mulher compra o varal de teto, homem, o de chão. Só o supermercado permite o objetivismo estético de um casal.