domingo, 18 de julho de 2010

Quando eu acho que já vi e ouvi de tudo...

...ouçam o que o ilustríssimo jornalista Alexandre Garcia (jornalista formado) tem a dizer sobre o diploma de jornalista:


terça-feira, 2 de março de 2010

O objetivismo estético do supermercado






É no supermercado que a gente nota as diferenças entre os seres de Marte e Vênus. Nesse ambiente decorado por gôndolas e balcões refrigerados é possível analisar friamente (com o perdão do trocadilho) os gostos e desejos de homens e mulheres.

Ora, homens são objetivos, mulheres são estéticas. Enquanto elas observam uma tábua de passar in-dis-pen-sá-vel à decoração da sala de estar, eles rebatem sobre a real utilidade do móvel. Afinal, o espaço que uma tábua de passar com gavetas e portas para guardar roupas ocupa é simplesmente enorme. Os setores reservados à ala masculina no supermercado resumem-se ao açougue e às ferramentas. O restante do ambiente foi minimamente desenhado para o consumo feminino. Desde as plantas até o arroz com feijão. Cabe a eles objetivar a lista de 30 itens que se transformarão, no mínimo, em 45.

Dia desses observava um casal que escolhia um varal de roupas. Ela discorria sobre a beleza de um varal de teto e que o preço do mesmo refletia a estética diferenciada. Enquanto isso, ele retrucava mostrando a ela um varal de chão, mais em conta, maior, de alumínio, mais duradouro, mas não tão belo. Pronto. Motivo para discussão inflamada com direito à platéia segurando berinjelas e tomates nas fileiras de frutas e verduras. A mulher quando vai ao mercado não espera praticidade ou utilidade nos produtos que coloca no carrinho. A mulher vai ao supermercado como se fosse a uma joalheria no shopping. Escolhe a jóia mais bonita, mais vistosa. Compra por prazer, por beleza, por estética.

O homem é prático, avalia todas as possibilidades de um produto, a relação custo benefício. Homem vai ao supermercado com uma lista de 30 itens, sai de lá com 30 itens, ou menos. Ele escolhe os produtos como quem compra um carro novo, praticidade, economia, utilidade e se der, design. Não raro, casais andando separados no supermercado, ele, geralmente à frente, acelerando o tempo despendido nas compras. Ela, pacientemente olha, pega, troca, olha de novo, experimenta, olha de novo, pega. Até que decide o que levar. Quando leva. Uma lata de ervilha tem o mesmo poder de um vestido novo. Tem que observar a lata, as cores, o que diz o rótulo.

Mulher compra por emoção. Homem, por razão. Mulher embeleza o carrinho. Homem torna-o prático. Mulher quer a jóia, homem o carro novo.

Já vi casamentos se desfazerem em supermercados. Mulher compra o varal de teto, homem, o de chão. Só o supermercado permite o objetivismo estético de um casal.





quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

O inferno de Dante é em Porto Alegre





Depois de um tempo longe das linhas desse blog parei hoje para escrever sobre algo que assisti ontem e que me deixou perplexo. Falo da partida entre Grêmio e são Luís de Ijuí, no estádio Olímpico em Porto Alegre, às 17h. Sob um calor de 40º (isso mesmo, no termômetro marcava QUA-REN-TA GRAUS) e uma sensação térmica beirando os 50º, o que menos se viu foi futebol.

Acredito que a Federação Gaúcha de Futebol, para agraciar aos quase cinco mil torcedores, além de jornalistas e demais, presenteou a todos com uma sessão de sauna de cortesia.

Aproveito para sugerir aos profissionais que trabalharam durante o jogo de ontem, cheguem ao estádio de sunga e roupão, nada mais, inclusive os jogadores. Só tenham o cuidado de utilizar sungas de cores diferentes para que não haja confusão em campo.

O ápice do inferno de Dante, ontem, foi o desmaio do comentarista Batista, durante aparição ao vivo na TVCOM. Para quem não viu, aí vai o link:

http://wp.clicrbs.com.br/rosanedeoliveira/2010/02/04/celebridade-depois-do-desmaio/?topo=13,1,1

Muito provavelmente, os dirigentes da federação assistiram à partida no interior de suas residências sob um refrigerante SPLIT, regados a refrescos geladíssimos para suportar tamanho calor.

O que mais me incomoda não é o calor em si, mas a falta de sensibilidade e bom senso de algumas pessoas ao não transferirem o horário do jogo para a noite. O resultado disso foram profissionais do futebol vomitando após o jogo e comentaristas desmaiando.

Não bastasse a anulação do diploma de jornalista para exercício da profissão, agora os profissionais de comunicação têm que se submeter a horários estapafúrdios para verem cumpridas obrigações de quem paga para ter o jogo às 17h.

Quando me formar irei querer realizar uma entrevista exclusiva com o DIABO. Pago a passagem para ele desembarcar em Porto Alegre às 17h de uma linda tarde de verão.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Competição





Hoje, na volta pra casa, cansado depois de um dia de trabalho e puto da vida porque semana que vem vou ter que trabalhar no que não gosto (deixa pra lá, vou aproveitar o findi), vi uma cena que me despertou interesse.

Passando pela praça na frente do meu cafofo, vi um pai e seus filhos jogando bola. Mas jogando mesmo, não era brincadeira, jogo valendo. De repente o pai chuta a bola em direção ao gol do outro time, formado por três dos cinco filhos, o que acontece?

Um dos meninos, do time do pai, chuta a bola bem forte, como um daqueles zagueiros varzeanos, tirando o gol que estava prestes a ser realizado. O pai desesperado com o companheiro de time, que não devia ter mais que sete ou oito anos, dá-lhe uma tremenda bronca e manda o guri ir para o balanço do parquinho, como se tivesse cometido uma agressão e recebido o cartão vermelho.

Juro que na hora, me deu vontade de ir lá e chutar o saco daquele velho gordo. Contive-me. Comecei a observar a cena e pensar sobre o assunto. Se nossos pais alegrassem-se em ver um filho saudável, brincando de bola com eles, longe das drogas, convivendo em família, dariam uma boa gargalhada e correriam ao nosso encontro para nos jogarem para cima. O que os faz serem agressivos como o pai atacante? Respondo-lhes já. Uma palavrinha chamada competição.

O raio da competição é que faz que criemos nossas crianças como se o mundo fosse uma selva onde os mais fortes sobrevivem. O fraco é pisoteado e esmagado como uma barata. Não culpo aquele pai, aprendeu do pai dele que o mundo é assim e está preparando a prole para o futuro sombrio que os aguarda. Se nossos pais estimulassem nossa criatividade, apoiassem nossas iniciativas, criticassem o errado, elogiassem o certo, as pessoas daqui para frente fariam o que gostam, trabalhariam com prazer, viveriam aos sorrisos. Mas a competição supera o amor. Não se brinca mais de bola. Compete-se. Não se trabalha mais com prazer. Assim como eu na semana que vem. Tudo pela merda da competição. Um dia, bem próximo, eu faço que nem aquela criança que foi de castigo pro balanço da pracinha. Chuto a bola pra bem longe do gol e vou viver feliz.



All Star







Essa semana eu ganhei um all star igualzinho ao daí de cima. Da minha excelentíssima. Presentão. Quer dizer, acho. Talvez ela quisesse me mostrar o quão velho e ridículo eu estou. Brincadeirinha. A verdade é que o all star apareceu no início do século XX. Foi o tênis do basquete norte-americano por décadas.

Eu tinha um all star quando era novinho. Amarelo. Cano alto. A gente dobrava o cano e arremangava as calças jeans para mostrar o pisante. Imagina a foto! Depois surgiram uns com a logo da marca por dentro, que era pra virar o cano e não deixar o tênis sem identidade. Pura jogada de marketing. Aliás quando você é jovem, mais parece um outdoor ambulante do que uma pessoa, já notou? Olha aí pro seu filho. Quem fica feliz são as lojas do shopping.

Bom, voltando ao all star. Se a minha patroa queria me despertar um sentimento nostálgico, não conseguiu. Fui pra facul de tênis novinho. Me senti o maior gurizão. A galera toda com o mesmo tênis. A maioria nem era nascida quando a febre do all star chegou por essas bandas. Agora, são uma infinidade de cores e modelos, pra todos os gostos.

Eu to me sentindo o maior dos jornalistas, porque jornalista que se preza usa blazer, camiseta, calça jeans e all star. Sim senhor. Calçado de guerra como se diz. Confortável e resistente. Se cuida CQC, to chegando. Pior, não recebi um tostão pela propaganda. Mas to feliz com meu all star BLACK, novinho, novinho. Pra ficar melhor, falta encardir o dito. Vamos dar tempo ao tempo.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Congestionamento em calçadas




Arte de Wilma Barsotti

Algo está acontecendo nas cidades grandes. Tem chovido muito por aqui. Dos últimos 12 dias, 10 foram com água caindo do ceu. Adoro caminhar sob a chuva. Faz-me pensar, refletir. Comprei um guarda chuva novo. Grande. Bem grande. Enorme diria. Pra me proteger da água que cai. Virou moda. Guarda chuva grande. Além disso, o comércio internacional facilita a aquisição de tal iguaria.

Então, disse que algo se sucedia nos dias de hoje nas metrópoles do Brasil, do mundo talvez. Muita gente na rua, muita mesmo. Caminhando em calçadas cada vez mais estreitas. Apesar do recuo obrigatório de 4 metros da rua, as propriedades cada vez mais, principalmente as comerciais, se apropriam das vias expressas de quem trafega sobre dois pés. Pessoas demais, chuva demais, guarda chuvas enormes demais. Congestionamento garantido. Não mais guarda chuvas. Espadas que se esgrimam ao chocarem-se no cruzamento de duas almas. Ou mais.

As pessoas têm mania de caminhar lado a lado. Não interessa a largura do passeio. Três, quatro, até cinco, vindo em sua direção, como a defesa dos GIANTS a atropelar o quarter back, franzino, que tenta chutar a gol. Imagine cinco pessoas empunhando espadas medievais em sua direção? Lembro-me das cruzadas, onde os exércitos enfrentavam-se face a face.

Com o estreitamento das calçadas, o aumento da população mundial e a falta do controle de natalidade, associada ao aumento dos combustíveis, surge um novo fenômeno social: o congestionamento urbano de guarda-chuvas. Cada centímetro quadrado é disputado tapa a tapa. As pessoas preferem as marquises em dias de chuva. Além de proteção extra, mais longe do banho dos carros.

Dia desses vinha caminhando pelo lado direito da calçada, como determina a legislação de trânsito, quando, em sentido oposto ao meu, outro transeunte vinha pela contramão. Ambos segurando suas espadas, digo guarda chuvas, como numa disputa medieval sobre cavalos pela atenção de alguma princesa. Ao nos aproximarmos, firmei o passo em linha reta (afinal o outro que estava na contramão), e nos chocamos. Ouvi um monte de palavrões do cidadão. Só faltou me espetar com seu sombreiroo. Como se eu tivesse obrigação de desviar.

O trânsito nas grandes cidades está caótico mesmo. Inclusive em dias de chuva, nas calçadas.




quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Pote de geleia










Há alguns dias completei mais um ano de existência terrena. 34 agora, se não me falha a memória. Ao chegar nessa tenra idade me deparo com alguns questionamentos a respeito da vida, das relações e de como vamos levando essas coisas através dos tempos.

Fossem alguns anos antes, me preocuparia com a chegada da idade, a indecisão profissional, os filhos que ainda não tive. A casa própria que ainda não é própria. Esses meandros que tornam a vida contemporânea essa merda que a gente vê por aí.

Foi então que aconteceu. Todas essas minhas angústias foram por água abaixo quando me deparei com o pote de geléia aí de cima. Isso mesmo, fiz questão de fotografá-lo pra mostrar, para você leitor, que nossos problemas só existem porque nós deixamos que eles apareçam.

Se você reparar bem nesse vidro aí, verá que as bordas superiores são em forma de quinas. Notou? Pois bem. Dentro dessa maravilha de design e engenharia moderna havia uma suculenta e deliciosa, mas não menos calórica, geléia de uva. Divina.

Eu fui comendo, comendo, comendo, até que cheguei na geléia das bordas. Imaginou? Olha, devo ter ficado umas duas horas para conseguir tirar com uma faca a geléia que teimava em decorar os cantos do pote de vidro. Agora me diz quem é a criatura que desenhou esse vidro de geléia? No mínimo nunca comeu tal iguaria.

Depois disso, do episódio em questão, resolvi simplificar. Deixo a vida me levar. Vida leva eu, como diz a canção. Sem preocupações. Com metas e objetivos traçados. Mas se no meio do caminho tiver que jogar o pote de geléia com as quinas coloridas no lixo, tudo bem. São problemas menores, que a gente descarta, não transforma em dores de cabeça. É só abrir a tampa do lixo e jogar o vidro todo pra dentro.




domingo, 16 de agosto de 2009

Missiva acerca de um dote







Escrevo a Vsas. Srias. esta humilde missiva para tratar de assunto de vossos interesses. É bem sabido, de tempos, de meu interesse em vossa filha, claro que com a melhor das intenções. Considerando o apreço que tenho por vossas realezas, venho por meio desta explicitar toda minha angústia e temor por algo que me toma de preocupações e faz meu sono afastar-se de minha cama todas as noites desde que iniciei colóquio amoroso com vossa princesa.

É de conhecimento de todos nesse reino que sou um pobre vassalo, a serviço de vossas majestades, e que nem tampouco possuo terra onde possa cair morto. Muito menos animais para o serviço da terra ou para servirem de moeda mercantil. Vá lá, detenho tão somente quatro cuscos que me acompanham nas andanças da vida, tal qual um nômade sem destino, mas que desde que conheceu a princesa estabeleceu-se nas redondezas de vosso nobre reino.

Meu trabalho é tão somente o de fazer girar a moeda do reino. Sou um reles funcionário de vossas majestades. Por tudo isso que venho me dirigir a vossas altezas, para falar-lhes a respeito do DOTE. É de costume fidalgo e das melhores nobrezas, o noivo presentear com um regalo os pais da noiva, como forma de agradecer e parabenizar aos ascendentes da mesma, nesse caso, vossa filha.

Por bem, e como já é de conhecimento de vossa rebenta, meu dote resume-se tão somente e unicamente ao amor que nutro por jovem manceba. Sei que é pouco, aliás, é nada, mas é sincero. Simples e de coração. Portanto, se vossas senhorias que já possuem tudo e mais um pouco, contentarem-se com essa pequena demonstração de consideração por suas almas, regozijo felicidades em aceitarem meu dote pela mão de vossa filha.

Espero retorno dessa missiva, com boas novas reais.

Assinado, um nada com coisa nenhuma.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Ermitão






Todo mundo tem um dono. Eu disse todo mundo. É só parar e pensar. Para quem você deve satisfações? Certamente para alguém. Nem que seja o governo. Lógico. Você paga impostos, não paga? Experimenta deixar de pagar. E a lista segue: chefe, mulher, pai, mãe, vizinho, até o flanelinha que cuida do seu carro. Você poderá argumentar que sim, eu me relaciono com essas pessoas, mas elas não são meus donos. Será?

É simples. Todo mundo que quer viver em sociedade deve satisfações para os outros. É natural. Portanto aquela balela de que eu sou independente, mando no meu nariz, não existe. Ninguém é realmente independente, ou livre para fazer o que der na telha. Vivemos num mundo de regras. Necessárias. Escritas por quem? A grosso modo, nossos donos. Você não faz suas regras. Apenas segue aquilo que está estabelecido pelo grupo onde vive. Ninguém muda nada sozinho. Por isso que uma nova regra é discutida e feita por várias pessoas.

Mas voltando aos nossos donos. Acredito que os únicos a não terem donos, mesmo, são os ermitões. Aqueles sujeitos esquisitos que de uma hora pra outra resolvem abandonar tudo e viver isolados. Em cavernas. Como nossos ancestrais primitivos. Admiro os ermitões. Sujeitos corajosos esses. Resolveram ser livres. Independentes. Esses sim. A gente? A gente é cercado de donos. Basta desrespeitar um deles e pronto. Somos punidos. Portanto, concluo, nesse mundo, somos submissos uns aos outros. Como num círculo vicioso. Uns submissos aos outros. Não há escapatória. Pare um minuto e reflita. Se estiver errado, me corrija. Experimenta deixar de pagar o IPVA. Seu carro é preso e você só tem sua liberdade de ir e vir de carro de novo quando pagar a penitência.

Desde que você nasce os donos se apoderam de você. Nem seus pensamentos são seus. Nossas idéias são colchas de retalhos costuradas por nós de milhares e milhares de informações que recebemos diariamente. Nem nos preocupamos em parar e decidir se o que pensamos é ou não é importante ou certo. O mundo de hoje não permite. Nossos donos exigem pressa, exigem conhecimento rápido, exigem ,exigem, exigem. Nomeio isso de paranoia da informação. Nosso novo dono responde pelo nome de internet. A grande rede de informação. A ligar o mundo em segundos. Exige que saibamos coisas que em outros tempos não seria necessário. E assim nos escravizamos mais uma vez. Novo dono. Qual será o próximo? Seremos realmente livres algum dia? Talvez a resposta esteja com os ermitões. Quando encontrar um, entrevisto-o e conto para você.



sábado, 11 de julho de 2009

Sinais dos Tempos





Sábado é dia de mercado. Super, como se diz por essas bandas. Agregado ao mesmo, shopping (invenção do século XX), e nele, praça de alimentação. Almoçar no shopping é algo, no mínimo, curioso. Famílias inteiras, até três gerações, reunidas nas mesas que nem sequer lembram os alegres e efusivos encontros de final de semana na casa da vó.

Aliás, a mesma está lá, sentada na ponta da mesa, como manda a boa tradição matriarcal. No prato, McDonalds, Milk shake. No olhar, o pensamento e a lembrança de um aroma e sabor de uma bela macarronada ou uma costela gorda. Em outra mesa, uma senhora, talvez 70 ou mais, saboreando uma bib esfiha. Risonha, despreocupada, conversa, animadamente, com as colegas, duas ou três, aparentando a mesma idade.

Praça de alimentação virou refúgio familiar. Por que gastar tempo e dinheiro espetando carne ou cozinhando massa, batendo bolo ou a maionese? Em cinco minutos tudo está ao seu alcance. Como um passe de mágica. Ao redor, 360 graus de variedades, massas, grelhados, tortas, sanduiches, comida chinesa. Sem reclamação dos netos que preferiam comer batata frita à alface. Ilhas de felicidade. De encontros familiares.

Chapéu à mesa era condenação. Direto para o inferno. Sem parada no purgatório. Usá-lo era constrangedor. Pecado contra a santa ceia do Senhor. Era. Não é mais. Centenas de cabeças desfilam bonés e chapéus coloridos na praça, a lembrar dia de praia e os guarda-sóis multicores espalhados na orla. Ninguém mais se lembra do ritual. Caído no esquecimento. Deixado de lado no dia em que a vó foi ao shopping.

Paradoxalmente, casais ainda sentam lado a lado, ou frente a frente, conforme o gosto. À esquerda uma menina sentada na cadeira e cruzado com ela um rapaz. Até isso mudou? Casais sentados em diagonal? Estranho. Ao levantarem-se não se dão as mãos. Amigos, talvez. Partem lado a lado, conversando. Amigos. Como se fosse proibido a amigos sentarem frente a frente, ou lado a lado. O que dirão os conhecidos? E se a namorada(o) dele(a), chegar e ver a cena? Fim, com certeza. A intimidade de amigos não resiste à mesa de um shopping. A mesma mesa que guarda a intimidade das famílias.

Sinais dos tempos.