sábado, 28 de março de 2009

O sonho de Ícaro


A Queda de Ícaro, óleo de Jacob Peter Gowy (1636-37).

Ícaro é um personagem da mitologia grega que, junto com seu pai Dédalo, construíram asas com penas de pássaros para escaparem do labirinto em que foram colocados pelo rei Minos, como castigo por provocarem o dito rei. Dédalo era um homem criativo. Inclusive ele era o criador do labirinto de Minos, que servia para prender o Minotauro. Sabedor da impossibilidade de fuga de tal labirinto, Dédalo resolve construir asas para si e para seu filho. Conseguem alçar voo e escapar de Minos. Ícaro, deslumbrado com o poder de voar, aproxima-se demais do sol, contrariando as recomendações de seu pai, e a cera que prendia as asas derrete, fazendo Ícaro despencar em queda livre para a morte.

Pobre só anda de avião de graça. Depois de 33 anos realizei o sonho de Ícaro. Não que antes não pudesse. Medo mesmo. Não adianta me dizer que avião é o meio de transporte mais seguro que existe (só perde para elevador). Tenho um argumento irrefutável. Avião quando sofre acidente não sobra ninguém para contar como foi. Argumento mais que plausível para adiar minha decolagem.

Na verdade decolei só agora porque tinha um motivo especial. O amor. Ah sim. O amor. Como diz a canção, Love is in the air. Ou no chão do cerrado, me esperando no aeroporto. Mas como ia dizendo, realizei o sonho de Ícaro. Voei. Troquei umas milhas que iam expirar. Até que enfim o cartão de crédito serviu para alguma coisa.

Você já notou que loucura é voar. Eu fiz 1847 km em três horas e pouco. Isso dá uma média de 600 km/h. É muito rápido. De dentro da aeronave você não nota quão rápido esse bicho avoa. Confesso. Gostei de voar. Gostei mais da decolagem. O frio na barriga. Comparável, só, ao encontro com ela no saguão do ninho do pássaro. Sentei na janela. Como todo bom turista de primeira viagem que se preze. Fiquei pendurado olhando para fora a viagem inteira. Parecia criança dentro de sorveteria. Tal minha felicidade.

Os outros passageiros devem ter me achado louco. Deixa pra lá. Problema deles que provavelmente estavam loucos para ficarem olhando pela janela. Só sei que gostei de viajar de avião. Logo eu que sempre preferi (e ainda prefiro) viajar de carro. A gente vê mais coisas. Mas de avião a gente vê coisas diferentes. Talvez seja isso que Ícaro tenha visto lá de cima. O poder de estar sobre a superfície da Terra. A liberdade de voar alto e rápido. Enxergar o mundo de cima. Ver pessoas, animais, carros, como pequenos pontos, quase invisíveis. Somente um olho de águia para detectá-los.

Agora sei o porquê de Santos Dumont persistir tanto até conseguir alçar voo no seu intrépido 14 bis. Ele, como Ícaro, e agora eu, sabia o que é sentir-se livre como um pássaro.

Da série...Português é tão difícil?...nº VI


Jogo dos cinco erros: Vou pedir pra ela fazer uma simpátia pra trazer um professor de português pra quem fez esse cartaz.

segunda-feira, 23 de março de 2009

As mulheres em mim


Quem me conhece já me ouviu falar, ao menos uma vez, que nasci com o sexo errado.
Deveria ter nascido mulher. Calma. Já explico. Antes que tirem conclusões precipitadas a respeito de minha orientação sexual. Quero deixar bem claro. Eu gosto de mulher. Ok?

Pois bem, como eu ia dizendo. Deveria ter nascido mulher porque tenho alguns hábitos, no mínimo, estranhos para as mulheres conhecidas, desconhecidos para os amigos da turma do bolinha. Sempre gostei de discutir relação. Talvez porque minha capacidade de argumentação supere as expectativas femininas. Sei lá. Discutir o relacionamento em que você se encontra é o mínimo que se pode esperar de respeito à próxima. Se você pretende que ela permaneça próxima. Como quer se relacionar com uma mulher se não conversa com ela? Essa é a minha premissa para a tão falada (por elas) discussão de relacionamento.

Gosto de shopping. Gosto de ver vitrines. Sério. Encaro a maratona de caminhada como um exercício físico necessário para o casal. Ainda mais que a maioria das mulheres dispensa atividade física. A não ser a horizontal. Bom, mas isso é outro assunto. Como dizia, passear no shopping me desestressa. Gosto de observar as pessoas, os casais, as situações corriqueiras desse entretenimento do mundo moderno. O homem que caminha a frente da esposa. As escolhas das lojas. Homens, eletroeletrônicos. Automóveis. Mulheres, roupas. Bolsas. Sapatos. Cada criança brinca e escolhe seus brinquedos preferidos.

Converso sobre cabelo. Unhas. Maquiagem. Roupas. Combinações. Moda. Aprendi com minha ex-mulher. Aprendi observando as mulheres. Aprecio ver uma mulher bonita, e os estratagemas cosméticos de que se utiliza para tornar-se mais deslumbrante. Assim como escolho minhas roupas, as combinações que gosto, observo o mesmo nas mulheres. Bom gosto, saber combinar, é fundamental para me atrair. Sempre comento, deixe o desleixo para nós homens. Vocês mulheres têm a obrigação de estar sempre bem arrumadas. Impecáveis. Lindas. É da sua natureza. Fosse o contrário, quem se pintaria seríamos nós. Para mim, a beleza do homem está na simplicidade. No máximo na beleza do corpo, esse, bem cuidado.

Gosto de cozinhar e lavar louça. Bom, isso quase todo exemplar do sexo masculino faz hoje. Mas há uns dez anos seria taxado de boiola. Sem piedade. Converso sobre sexo numa boa. Aliás, prefiro a conversa sexual com minhas amigas mulheres. Sem saber, elas me dão as informações necessárias para explorar seus corpos nus. O que gostam, como gostam, o tempo das carícias, as palavras sussurradas. Aqui vai uma dica aos homens. Mulher gosta de sacanagem sussurrada no ouvido. Experimentem. Depois me falem.

As amigas, a namorada, surpreendem-se com minhas atitudes. Não há nada sobrenatural. Sou jornalista. Minha função é ouvir e observar. Reporto o que capto. Reproduzo o que apreendo delas. Exteriorizo as mulheres criadas em mim. Mas que fique bem claro: meu lado feminino é lésbico.

domingo, 15 de março de 2009

A física quântica do amor


O amor é explicado pela física. Descobri isso. Vi um filme sobre física quântica, a qual não entendia bulhufas, e descobri. O amor é pura física. Segundo a teoria quântica, estamos todos entrelaçados (os átomos), num emaranhado de conexões, infinitas.

Então resolvi teorizar também. Se eu estou entrelaçado com alguém e vibro numa mesma energia que esse alguém, é possível que possamos nos comunicar, mesmo à distância. O que eu fizer ou pensar movimentará átomos e partículas infinitamente pequenas e será reproduzido a outra pessoa da mesma maneira. Afinidades? Acredito que sim. Das afinidades surgem as atrações. Que na verdade já existiam, visto estarmos entrelaçados, portanto atraídos energeticamente. Complicado? Pois é. Quem disse que o amor é fácil.

Da atração, vinda da afinidade, vinda do entrelaçamento, surge a união das energias atômicas (nós), mesmos distantes. Será possível uma união à distância? Segundo a física, sim. Então do entrelaçamento, surge a afinidade, que traduz em atração, que já havia antes, por causa do entrelaçamento, resultando na união, mesmo a distância, dos átomos entrelaçados, nesse caso nós. Veja leitor que estou quase chegando lá. Na teoria quântica do amor.

Da união - mesmo à distância é possível a união – nasce o sentimento, que na verdade nada mais é que a concordância de idéias e de pensamentos. A admiração pelos átomos do outro. Pela energia alheia. Que na verdade já existia. Só não era consciente. Visto que estamos todos emaranhados numa teia cósmica energética, que resulta em afinidades, que resulta em atração, que resulta em união, mesmo à distância, que faz nascerem sentimentos, que nada mais são que vibrações energéticas em uma mesma frequência, pois passamos a admirar o outro, suas idéias e pensamentos, que são energia entrelaçada com a nossa. Entendeu?

Mas e será que o amor termina? Pela lei de Newton, impossível. Na natureza nada se perde, nada se cria, tudo se transforma. Sendo o amor energia entrelaçada entre meus átomos e os do outro, o amor terminará porque haverá um rearranjamento de partículas, que podem romper o enlace. Como? No momento que paramos de admirar o outro, nossa energia muda. Não vibra mais como antes. Então se direcionará a outras conexões (explicação científica da traição), procurará outros átomos para compartilhar a união (mesmo à distância). Sendo o enlace desfeito, a energia não vibra mais em mão dupla, muitas vezes é mão única. Energia desperdiçada. Fim da relação (cientificamente, eis a explicação da separação).

E o amor dura para sempre? Eu acredito que sim. Quando as energias se encontram e conseguem se estabilizar, durarão eternamente. Não há choque de partículas (que define a discussão da relação). Os átomos dele e dela estão estáveis. Há uma corrente energética de ida e vinda o que se traduz em continuidade (eis a fidelidade).

Viu como é fácil teorizar o amor? Entendeu? Não? Não precisa. A não ser que você seja físico. Apenas viva. A natureza se encarrega dos átomos.

sexta-feira, 13 de março de 2009

Primeiras produções literárias na melhor faculdade de jornalismo do sul do país



Eis meus primeiros textos na FAMECOS. Jornalismo de qualidade. Aqui se faz.


Gaúcho em terra estranha

Gaúcho tem um quê de imperador. Tudo no seu estado (ou país, como alguns desejam) é melhor. A carne é melhor, o churrasco é melhor, a cerveja é única, as mulheres são as mais bonitas. Diria eu que está instituído o estilo gaúcho de ser. Aqui tudo tem dois lados. Invariavelmente. Dois times. Duas ideologias políticas. Dois jornais. Dois narradores esportivos.

Aventurei-me por terras estranhas há alguns anos. Fui morar onde antes era turista. Subi a BR 101 (ou BRIOI, como, carinhosamente, nossos vizinhos catarinas a chamam) e me instalei no vale do Itajaí. Beira do Itajaí-açu, um dos maiores rios de SC. Fui atrás do que todo mundo diz que tem lá. Uma tal de qualidade de vida. Depois de dois anos descobri que qualidade de vida em Santa Catarina significa desacelerar. No início pensei que era preguiça, desleixo. Não é. É se preocupar mais com a vida, menos com os problemas.

Litoral catarinense é um caldeirão. Tem gente de todo o Brasil. E do mundo. Muitos vêm com os navios, se encantam por uma catarina nativa e apeiam seu cavalo por aquelas paragens. De começo, tudo muito diferente. Sair da capital do mundo, sim, Porto Alegre é a capital do mundo para os gaúchos, e ir para uma cidade litorânea e tradicionalmente açoriana (espera aí! Porto também é açoriana) é, no mínimo, tratamento de choque.

Aprendi que gaúcho não é o dono do mundo, não é melhor que ninguém, é apenas um povo fortemente ligado às suas raízes. E que o resto do mundo é composto de pessoas, assim como nós, diferentes e que agregam valor cultural. Basta observar. Por que voltei? Saudade do estresse, do melhor churrasco e das mulheres mais bonitas. Do mundo, lógico.



Sobre a foto de uma flor (exercício de criação)

Tua intimidade se mostra para mim, como a flor que desabrocha na primavera. Teu desabrochar de mulher se faz natural, leve e delicado. Lembra a flor selvagem, à margem do rio, que descerra as pétalas e se traduz fértil. Espera e serás polinizada. Calma e lentamente, a beleza da flor tua apreende minha atenção. Desejo. Prazer. Retiro o pólen de ti. Produzo o mel da luxúria inocente da primeira vez. Adocicada, estás fecunda, como a natureza da flor, que és tu.

domingo, 8 de março de 2009

sexta-feira, 6 de março de 2009

Chá das cinco (homenagem ao dia internacional dos homens)


Num futuro, não muito distante, essa cena e essa conversa, serão normais:


- E aí galera?

- Opa, chega aí Márcio!

- Tudo bem Rodrigo, como é que está Fábio? Tranquilo Roberto?

- Tudo bem, responde Roberto. Finalmente tua mulher liberou você pra vir tomar um chá conosco. Fazia tempo hein! Como vai a Aninha?

- Foi assistir ao jogo do Grêmio, com a Paula e a Carla, no estádio.

- Nossa! Nunca vi, tua mulher é fominha por bola mesmo, comenta Rodrigo. – A Cíntia até que curte um futebol, mas na TV. Eu aproveito para colocar a leitura em dia, enquanto ela ta grudada no futebol domingo de tarde. Estou lendo Mulheres são de Marte, Homens são de Vênus. Uma obra reeditada de uns anos atrás. Atualizada. Fala muito sobre o relacionamento do casal. A insensibilidade feminina, o porquê delas não quererem discutir o relacionamento, essas coisas.

- Bah! Que legal cara. Quando terminar, me empresta, quero ver se a Sílvia se toca e lê esse livro. Ela está precisando, diz Fábio.

Márcio, um rapaz bonitão, 1,80m, moreno, pede um chá de camomila. Precisa desestressar. A vida de dono de casa está deixando ele louco. Cuidar dos gêmeos que teve com Renata não é tarefa fácil. A mulher trabalha de 12 a 15 horas por dia. Ele resolveu pedir licença do trabalho na repartição pública, por seis meses, até que as crianças já possam ir para a creche. Sem o salário de Márcio, a coisa está apertada em casa.

- A Renata está pegando pesado, diz ele. Controla todos os meus gastos. Não posso nem mais dar uma volta no shopping. Imagina se voltar com uma sacolinha de compras? Esses dias comprei um vestido de presente para ela, mandou que devolvesse. Lógico, eu não obedeci. Estendi no guardaroupa e ela, de vez em quando, usa. Mas todas as vezes reclama. Que poderíamos ter trocado de carro se eu não gastasse com tanta futilidade. Vai entender as mulheres de hoje. Nunca estão satisfeitas.

Nisso quatro beldades, duas loiras e duas morenas, se aproximam do quarteto. Perguntam se podem sentar junto a eles, para conversarem. Mais que depressa, Fábio e Roberto inventam uma desculpa e saem para ir ao banheiro. Márcio e Rodrigo, já sabendo das reais intenções das gatas, apressam-se em dizer que são comprometidos e que as mulheres só foram olhar uma loja de eletrônicos e já devem estar voltando.
As gurias, descartadas e sem jeito, falam qualquer coisa e se despedem.

- Incrível né Márcio. Essa mulherada de hoje não respeita mais homem casado. Dão em cima de todos. É só ter uma aparência legal, estão matando em cima. Não dá nem mais para quatro amigos se reunirem, conversarem e darem umas boas risadas em paz, diz Rodrigo.

Fábio e Roberto, nesse instante, voltam à mesa. Reclamam do assanhamento das meninas e voltam ao assunto de antes. Márcio sorve seu chá de camomila acompanhado de um delicioso pão de queijo e uma fatia de torta de limão. Fábio, Roberto e Rodrigo preferem pedir uma jarra de chá de frutas silvestres, acompanhado de croissants de goiabada. Enquanto se deliciam com os quitutes a tarde vai passando. Assuntos. Os mais variados. Cinema. BBB. A última moda masculina para o verão. Reclamações que as meninas só querem sexo. Não são mais românticas, como no começo do namoro.
Já é perto das 18h, quando o celular de Fábio toca. É Sílvia. Querendo saber se ele vai demorar. Tiago e Bruna, as crianças, estão com fome e eles haviam combinado de irem ao McDonalds e depois levar os pimpolhos para assistirem a última animação da Disney, no cinema.

- É galera. A conversa está boa, mas a Sílvia já está me pentelhando para ir para casa. Tenho que dar banho nas crianças para a gente pegar um cineminha. Às vezes me pergunto. Por que foi que casei? Mulher só serve para aquilo mesmo. Kakakaka. Se é que vocês me entendem.

Risadas generalizadas.

Márcio também comenta que Renata, logo, logo, volta do posto onde eles levam o carro para lavar todo o sábado. Passará no shopping e o pegará. Sempre reclama que ele nunca está na porta esperando. Perde tempo estacionando o veículo e procurando Márcio no interior do centro de compras. Dessa vez ele resolve não criar confusão e esperar a mulher na porta de entrada.

Os rapazes se despedem. Alegres pela reunião. Combinam o próximo sábado. Novo chá das cinco. No shopping. Afinal, sempre é bom um tempinho com os amigos. Sair da rotina do casamento. Elas não vão assistir ao futebol? Deixem os rapazes se reunirem e conversarem. Os homens antigos é que gostavam desse esporte violento e sem graça. Eles são homens modernos. Discutem relacionamento, moda, diversão.

Viva a modernidade. Viva o chá das cinco. Algumas coisas não mudam. As personagens talvez. O chá, nunca.

Parabéns Homens da Terra. 08 de março. Dia Internacional dos Homens.

terça-feira, 3 de março de 2009

Dicionário amoroso


Está no dicionário. Não fui eu quem inventou o significado. Veja você mesmo:

amar
a.mar(lat amare) vtd, vint e vpr 1 Ter amor, afeição, ternura por, querer bem a: Queria dizer a todo o mundo quanto o amava. Os egoístas não amam. Amaram-se toda a vida. vtd 2 Apreciar muito, estimar, gostar de: Feliz daquele que ama o trabalho! vpr 3 Fazer amor; copular: Os recém-casados amam-se no escuro. Antôn: detestar, odiar.

adorar
a.do.rar(lat adorare) vtd 1 Reverenciar, venerar. 2 Amar extremamente, idolatrar. 3 Gostar muito de. 4 Prestar culto a; cultuar. Antôn: desadorar, detestar.

Fonte: Michaelis

Prestou atenção no item 2 do vocábulo adorar? Está ali. Olha pra cima. Adorar: Amar extremamente, idolatrar. Notou algo estranho? Pois é. Eu também. Segundo o dicionário adorar vale mais que amar. Adorar é algo superior. Coloca o outro um nível acima. É venerar. Endeusar. Idolatrar.

Já namorou né? Sabe casal novo de namorados? É um dengo-dengo pra lá, um meu bem pra cá meu bem pra lá. Tudo é novo. Romântico. Expectativas se formam todos os dias. Tem uma coisa que sempre me chamou a atenção. Uma frase. Pequeninha. Três palavras. Mas que nenhum dos dois têm coragem de pronunciar. O tal do ‘eu te amo’. Ele e ela ficam de rodeios. Dão voltas e voltas na esperança que o oposto anuncie antes o que estão loucos pra dizer.

Namorar deixa as pessoas burras. Sério. Apaixonados não utilizam cérebro. Ou se usam, os neurônios entram em férias. Você fala: eu te adoro, gosto de você, você é a minha vida, etc.. Mas, ninguém se acha com coragem de dizer eu te amo. Parece expressão proibida. Parece que se você disser isso assume um compromisso inalterável ao lado da outra pessoa. É quase um pedido de casamento.
Pois bem, consultando o popular amansa burro, constatei que o eu te adoro, tão propagado pelas bocas apaixonadas, na verdade vale muito mais do que o eu te amo, tão temido. Adorar, como você pode ver, pressupõe cultuar, venerar. Colocar o outro em um pedestal, dentro de uma redoma de vidro. Já um simples eu te amo, nivela o casal. Você está dizendo que gosta muito de alguém. Só isso. Nada demais. Mas, não sei por que raios, o eu te amo é uma barreira intransponível. Tem casais que levam anos para se declarar, sem se darem contas que ao adorar o parceiro, já o estão fazendo, mesmo que inconscientemente. O problema é a semântica.

Amar e adorar o outro, definitivamente, é um problema da língua. Somente no dicionário dos casais apaixonados, o primeiro vale mais que o segundo. Mas como dizem, o amor é burro. E não consulta dicionário.