segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Faxina em minhas gavetas

Meu pai sempre me disse. “Quem guarda tem.” Verdade. Aprendi isso esse final de semana. Ao me mudar, há um mês, vi o quanto havia guardado coisas. Portanto decidi que deveria fazer uma faxina em coisas e coisas que não uso mais. Comecei por separar meus livros. Descobri que não li a maioria deles. E aqueles que li, muito provavelmente não me recordo mais de seus conteúdos. Prometi a mim mesmo lê-los. Quando? Sei lá.

Passei a papéis, documentos, e coisas afins. Aí uma coisa fantástica aconteceu. Entrei numa verdadeira máquina do tempo. Folhas de cadernos do tempo da engenharia na UFRGS, administração na ULBRA, curso técnico em Passo Fundo, telefones dos colegas de segundo grau, fotos de formatura, agendas com telefones de pessoas que há tempos não vejo mais. Telefones de ex-namoradas. Gurias que não me lembrava mais, nem ao menos os nomes.

Um familiar meu disse-me que o melhor para a vida da gente ir para frente é se livrar das coisas que não usamos mais. Criar movimento, livrar-se das (in)utilidades do lar, que prendem a energia da vida. Cruzes, quanto esoterismo! Pois bem, resolvi seguir o conselho. E ao ir rasgando e jogando fora todos esses papéis me dei conta de que seria a última vez que viajaria pelo tempo. Tempo de minhas lembranças. Tempo de minhas memórias. Mas também notei que as lembranças não estão nas coisas que guardamos. Elas apenas são chaves das gavetas de nossa memória. As lembranças estão guardadas em nós.

Fui fazendo minha faxina temporal até que cheguei às fotos. Bom, aí, sei lá por que, empaquei. Não consegui destruir nenhuma. Fotos de viagens, festas, pessoas e mais pessoas. Ouvi uma vez, quando era criança, que não se rasgam fotos. Provavelmente uma maldição deve se abater sobre a pessoa que tem a coragem de destruir o registro de fatos. Ou talvez ao rasgar uma foto de pessoa estejamos rasgando sua alma. Algo nesse sentido.

É verdade que a maioria das minhas fotos é do tempo do meu casamento, ou melhor, da vivência ao lado de minha ex-mulher. Afinal foram 13 anos de convivência. A realidade é que me faltou coragem. Medo de que uma grande parte da minha vida fosse para o lixo assim como as fotos. Medo do esquecimento. Medo de perder a chave de uma gaveta de minha memória. Talvez a mais importante.

Mas ao mesmo tempo espero, com sinceridade, que minha vida ande. Espero que alguém importante apareça em minha vida e que peça, melhor exija, que me livre das fotos e de todo o mais que emperra minha vida. Talvez essa pessoa faça uma faxina em minhas gavetas. Retire o que é velho. E coloque novos papéis. Para que eu guarde. Para que eu tenha. E que dessa vez, eu não precise mais viajar no tempo.

domingo, 21 de dezembro de 2008

Bate e Volta

Você já ouviu a expressão bate e volta? Provavelmente já. Essa semana tive que viajar para SC num legitimo bate e volta. Fui num pé, voltei no outro como dizem. A BR 101 continua uma ma-ra-vi-lha. Você porto alegrense ao querer ir ao litoral catarinense passar o ano novo ou simplesmente passar suas merecidas férias no paraíso sulino terá que ter uma paciência budista para enfrentar o rali da 101. Desvios mal sinalizados, buracos, pista sem sinalização noturna entre outras coisas, são os fatores que fazem a aventura turística ficar mais emocionante. Pois bem, saí de noite aqui do rio grande do sul, cheguei na madruga. Até aí tudo bem. Dormi, acordei pela manhã, peguei uma praia. Estava um calor infernal. À tarde fiz o que tinha que fazer e peguei o caminho de volta. Antes, porém, fiz algo que me arrependeria profundamente horas depois.

Ao entregar uma encomenda, no centro de Balneário Camboriú, para um amigo, e por já estar estressado com o engarrafamento típico dessa época do ano xinguei um motorista que estava com problemas no carro, por estar trancando o trânsito da rua. Incrível, na mesma hora me deu um aperto no peito. Sensação de ter feito algo muito errado. Depois de conseguir fazer seu carro funcionar novamente, o motorista passou por mim e disse:

- Pô cara! Eu já to todo fudido com o carro e tu ainda vem me xingar.

Fiquei quieto não reagi. Baixei a cabeça, envergonhado, como quando um pai ralha com o filho quando esse faz algo errado. Pois bem. Aquilo passou, comecei minha viagem de retorno. Ao chegar à cidade de Palhoça o trânsito parou. Ambulâncias passavam por mim, provavelmente mais um acidente na fatídica brioi (apelido carinhoso da BR 101).
Como o tráfego estava completamente parado, desliguei o carro e fiquei esperando a liberação da estrada. Alguns motoristas desceram dos seus automóveis e ficaram na volta da estrada tentando adivinhar o que havia acontecido.

Em determinado momento um desses motoristas apontou para o pneu do meu carro e olhou para mim. Desci do carro e fui até ele, que me disse que o pneu estava murcho. Olhei o pneu e como já sabia do problema de que aquele pneu murchava com freqüência não dei muita bola. Agradeci a atenção e voltei para dentro do carro.

Engraçado, seu anjo da guarda se manifesta de várias formas e maneiras. Aquela era uma. E eu não prestei atenção no seu aviso. Depois da estrada liberada segui viagem. Quase chegando a Porto Alegre aconteceu. Pneu furado. Aliás, furado era eufemismo. Completamente esgualepado. Mortinho. Sem esperança de ressuscitação. Eram quase onze horas da noite. Já troquei muito pneu, mas à noite, com certeza é muito mais complicado.

Enquanto trocava o pneu, incrivelmente me sentia completamente resignado com a situação. Como se soubesse que esse era o meu castigo pela atitude errada horas antes. O dia passava pela minha mente e eu relembrava do motorista e seu carro quebrado. Do xingamento. Do aviso de meu anjo da guarda horas antes. E sabe o que mais? Estava rindo daquilo tudo, por entender que aprendera a lição.

Lembrei também de uma pessoa muito especial. Ela dizia que existiam tarefas exclusivamente masculinas. E com certeza, trocar pneu estava entre elas. Foi bom isso ter acontecido. Fez eu me lembrar de alguém importante em minha vida e fez-me aprender, definitivamente, que o que bate, sempre, sempre, volta.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

O que a Bruna diria no banheiro ou no elevador


Tenho uma amiga chamada Bruna que me cobrou que não escrevo sobre ela no meu blog. Pois então, aí vai. Esta crônica é em sua homenagem cara Bruna.

Estava eu indo almoçar com duas colegas de trabalho e antes de pegar o elevador resolvi ir mijar no banheiro. Entrei, fui direto à privada. Aquelas que ficam lado a lado, separadas por divisórias. Estava eu a aliviar minha bexiga quando de repente ouço o seguinte diálogo:

- Olá. Você por aqui? (Que pergunta é essa? Parece que você encontrou um amigo no restaurante. Onde já se viu perguntar isso num banheiro. Até parece que o seu conhecido não utiliza banheiro público).

Segurei a risada e abri mais meus ouvidos para acompanhar o diálogo.

- Calor hoje né?

- Hum hum.

- Vai vir chuva. Com certeza.

- É sempre assim.

-Bom vou indo. Até mais.

- Até.

Existem dois lugares em que o papo entre amigos ou conhecidos versará sobre o tempo. Um é o banheiro público. Outro, o elevador.

Aliás, a pior coisa que pode acontecer com você, é encontrar um amigo no banheiro público. Ainda mais se faz tempo que você não o vê. Já pensou o seu amigo estendendo a mão para cumprimentá-lo? Aquela mão que você tem a certeza que estava segurando o pinto dele há um momento atrás. Pior, ele mijou e chacoalhou, o que quer dizer que provavelmente há respingos de urina em sua mão. Mas pior ainda é se ele vem te dar um abraço, colabando ambas as mãos em suas costas e você imaginando as bactérias pulando para sua camisa. Com certeza você não vai conseguir trabalhar o restante do dia, louco para chegar em casa, arrancar suas roupas, ir para o banheiro tomar banho e esfregar e lavar suas vestes, se possível com creolina.

Já no elevador, quando você adentra no mesmo, é como se houvesse uma placa fixada no fundo com o seguinte dizer: “Favor olhar para o chão, assoviar e falar somente sobre o tempo”. É incrível o poder hipnótico do elevador sobre as pessoas. Tem gente que deve rezar para não pegar elevador com conhecidos, só para não ter que puxar papo ou ficar olhando para a cara do outro. Agora me diz, por que as pessoas se sentem constrangidas nesses dois ambientes? O banheiro é até explicável. Afinal ninguém se sente bem em demonstrar a outrem que está ali para satisfazer necessidades fisiológicas. É como se você estivesse nu, no banheiro da sua casa e, sem mais nem menos alguém irrompe através da porta e te pega de calça arriada, sentado, confortavelmente em seu trono imperial.

Mas no elevador é no mínimo estranho. Por que será que as pessoas não se sentem à vontade com outras dentro do elevador? Definitivamente, o elevador não é um ambiente sociabilizador. Talvez se houvessem banquetas, um bar e um barman servindo coquetéis dentro do elevador as pessoas se sentiriam mais a vontade. O elevador seria um ponto de encontro. Já pensou? Aquela sua vizinha gostosa tomando um dry Martini e você pedindo um uísque on the rocks enquanto inicia um flerte com a vítima...ops com a conhecida.

Bom, ao sair do banheiro encontrei minhas colegas de trabalho e enquanto íamos ao restaurante relatei o ocorrido a elas. Perguntei então o que as mulheres conversam ao irem ao banheiro? Elas, educadamente responderam que vão ao banheiro juntas para confidenciarem a respeito das pessoas que ficaram na mesa em que se encontram. Para ajudarem-se mutuamente ao conferir maquiagem, cabelo e outras cositas más, uma da outra. Já pensou dois homens indo ao banheiro juntos. Já imagino a situação.

- Viu a loira da outra mesa?

- Vi sim. Que gostosa. Está com uma microssaia. Que pernas. Imagina o que tem debaixo daquela sainha?

- Nossa, muito boa, mesmo.

E por aí vai. Aliás, assunto de homem em bar só pode ser dois. Mulher e futebol.

Mas e a minha amiga Bruna, entra aonde nessa história? Bom, deixa eu explicar. A Bruna é uma daquelas amigas, diria eu, no mínimo incomum, o que já, por si só torna nossa amizade muito interessante. A Bruna, digamos, não tem papas na língua. Isso a faz ser uma pessoa autêntica, direta e extremamente sincera. Aonde quero chegar?

Fico imaginando a Bruna no banheiro feminino. Com certeza iria tratar uma conhecida, que encontrou por acaso, como se estivesse saindo de uma sessão de cinema no sábado à tarde. Não se incomodaria de pedir um absorvente para uma estranha, e se tivesse fugido para ir ao banheiro chorar porque viu o ex com outra, pegaria a primeira mulher que encontrasse retocando o batom e faria dela uma psicóloga e conselheira amorosa.

No elevador então não teria nem graça. Puxaria papo como se estivesse no salão de beleza comentando com as outras clientes sobre a nova moda de cabelos para o verão enquanto espera sua vez de fazer as unhas.

Essa é minha amiga Bruna, espontânea, autêntica e verdadeira. Como os melhores amigos devem ser.

Viu Bruna, agora você vai pensar três vezes antes de me pedir pra falar em ti no meu blog.

domingo, 7 de dezembro de 2008

E viva o casamento!


Li uma notícia, esses dias, que me deixou preocupado. Falava sobre o crescente número de divórcios no Brasil. Segundo o IBGE houve um crescimento de 200% (isso mesmo DU-ZEN-TOS POR CEN-TO) na taxa de divórcios em 2007, em relação a 1984.

Acredito que, entre vários motivos, a vida moderna, a entrada da mulher no mercado de trabalho – quer dizer o aumento significativo disso – a facilidade em se separar, instituída pelo novo código civil e a falta de tolerância sejam os principais.

Bom, querido leitor, eu sou adepto de casamentos duradouros. Tenho um tio avô que completou 75 anos de casado. Acredita nisso? Setenta e cinco anos ao lado da mesma mulher. Pode ser comodidade, mas também demonstra um amor por alguém que dificilmente é visto nos dias de hoje. Os casais de hoje não têm paciência para discutir relacionamento. Não há diálogo. Egoísmo. Sabiam? O egoísmo, o individualismo, reinam hoje entre as pessoas. Alguém, não sei quem, inventou que a felicidade é individual, que você tem que se preocupar com você. O outro que se lixe.

Desculpa. A felicidade é um estado de espírito que depende de vários fatores. E entre eles pode estar, nas pessoas menos egoístas claro, a vida ao lado de alguém. A construção de uma família. Filhos, cachorros, a emoção de conseguir a casa própria, de juntar os salários. Passar sacrifícios juntos em prol da continuidade da espécie. Tenho certeza que, dentre outros fatores, a desestruturação da família, a família como a gente conhece, é causa do aumento da violência. Os filhos, sem a presença materna e paterna, na maioria das vezes, rebelam-se. Pais separados é moda entre os jovens. Anormal é você ter pai e mãe juntos, casados. Caretice. O grupo não aceita você ter uma família unida. É a banalização do individualismo. O homem sempre foi um ser social. Sempre viveu em grupo. E acreditem! A fidelidade , assim como nos pingüins e golfinhos, faz parte do ser humano também.

Eu sou a favor de casamento pra vida toda. Filhos, casa, férias com carro lotado. Basta ter um pouco de paciência com o outro. Carpinejar, escritor gaúcho, diz que, amar outra pessoa é amar seus defeitos.

Casamento pressupõe ceder, não se importar com a tampa da privada levantada, a calcinha esquecida na torneira do chuveiro, não brigar pelo controle remoto, acompanhar sua mulher no shopping, sem se cansar, assistir ao futebol com ele, não precisa torcer pro mesmo time. Enfim, ceder, tolerar, querer estar perto do que é importante para o outro, querer estar perto do outro. Construir um estado de felicidade individual apoiado na felicidade conjugal.

Mas parece que a humanidade moderna está mais preocupada em pensar em si própria, no indivíduo e não no grupo. Casar, hoje, mais que nunca, é um exercício de ambos. Exercício de tolerância, de paciência, de perdão, de desculpas. É, ser feliz dá trabalho, mas vale a pena. Pra quem, como eu, não desistiu de formar família só há uma coisa a dizer: VIVA O CASAMENTO!