sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Competição





Hoje, na volta pra casa, cansado depois de um dia de trabalho e puto da vida porque semana que vem vou ter que trabalhar no que não gosto (deixa pra lá, vou aproveitar o findi), vi uma cena que me despertou interesse.

Passando pela praça na frente do meu cafofo, vi um pai e seus filhos jogando bola. Mas jogando mesmo, não era brincadeira, jogo valendo. De repente o pai chuta a bola em direção ao gol do outro time, formado por três dos cinco filhos, o que acontece?

Um dos meninos, do time do pai, chuta a bola bem forte, como um daqueles zagueiros varzeanos, tirando o gol que estava prestes a ser realizado. O pai desesperado com o companheiro de time, que não devia ter mais que sete ou oito anos, dá-lhe uma tremenda bronca e manda o guri ir para o balanço do parquinho, como se tivesse cometido uma agressão e recebido o cartão vermelho.

Juro que na hora, me deu vontade de ir lá e chutar o saco daquele velho gordo. Contive-me. Comecei a observar a cena e pensar sobre o assunto. Se nossos pais alegrassem-se em ver um filho saudável, brincando de bola com eles, longe das drogas, convivendo em família, dariam uma boa gargalhada e correriam ao nosso encontro para nos jogarem para cima. O que os faz serem agressivos como o pai atacante? Respondo-lhes já. Uma palavrinha chamada competição.

O raio da competição é que faz que criemos nossas crianças como se o mundo fosse uma selva onde os mais fortes sobrevivem. O fraco é pisoteado e esmagado como uma barata. Não culpo aquele pai, aprendeu do pai dele que o mundo é assim e está preparando a prole para o futuro sombrio que os aguarda. Se nossos pais estimulassem nossa criatividade, apoiassem nossas iniciativas, criticassem o errado, elogiassem o certo, as pessoas daqui para frente fariam o que gostam, trabalhariam com prazer, viveriam aos sorrisos. Mas a competição supera o amor. Não se brinca mais de bola. Compete-se. Não se trabalha mais com prazer. Assim como eu na semana que vem. Tudo pela merda da competição. Um dia, bem próximo, eu faço que nem aquela criança que foi de castigo pro balanço da pracinha. Chuto a bola pra bem longe do gol e vou viver feliz.



All Star







Essa semana eu ganhei um all star igualzinho ao daí de cima. Da minha excelentíssima. Presentão. Quer dizer, acho. Talvez ela quisesse me mostrar o quão velho e ridículo eu estou. Brincadeirinha. A verdade é que o all star apareceu no início do século XX. Foi o tênis do basquete norte-americano por décadas.

Eu tinha um all star quando era novinho. Amarelo. Cano alto. A gente dobrava o cano e arremangava as calças jeans para mostrar o pisante. Imagina a foto! Depois surgiram uns com a logo da marca por dentro, que era pra virar o cano e não deixar o tênis sem identidade. Pura jogada de marketing. Aliás quando você é jovem, mais parece um outdoor ambulante do que uma pessoa, já notou? Olha aí pro seu filho. Quem fica feliz são as lojas do shopping.

Bom, voltando ao all star. Se a minha patroa queria me despertar um sentimento nostálgico, não conseguiu. Fui pra facul de tênis novinho. Me senti o maior gurizão. A galera toda com o mesmo tênis. A maioria nem era nascida quando a febre do all star chegou por essas bandas. Agora, são uma infinidade de cores e modelos, pra todos os gostos.

Eu to me sentindo o maior dos jornalistas, porque jornalista que se preza usa blazer, camiseta, calça jeans e all star. Sim senhor. Calçado de guerra como se diz. Confortável e resistente. Se cuida CQC, to chegando. Pior, não recebi um tostão pela propaganda. Mas to feliz com meu all star BLACK, novinho, novinho. Pra ficar melhor, falta encardir o dito. Vamos dar tempo ao tempo.