sábado, 24 de janeiro de 2009

Espelho quebrado

Sou supersticioso. Sempre fui. Desde criança. Nunca atravessei embaixo de escada, nem deixei gato preto atravessar na minha frente, muito menos quebrei espelho. Quebrar espelho dá sete anos, sete longos aninhos de azar. Desfortuna, desgraça, enguiço, inhaca, urucubaca das brabas. Por SETE ANOS! Já pensou? Não comigo não violão. Nada feito.

Semana passada estava tirando o carro da garagem quando, sem querer (com homem é sempre sem querer), abalroei o retrovisor direito do veículo em questão. Contra o marco da garagem. Entrei em pânico. O espelho espatifou-se, como se fosse um castelinho de areia construído na beira da praia atingido por um tsunami. Não sobrou um pedacinho reflexivo para a companhia retocar o batom. Nada. Nadica de nada. Saí do carro e por pouco as lágrimas não rolaram. Lá estava eu segurando o suporte do retrovisor e pensando: sete anos de azar, sete anos de azar. Mas que diabos fiz para merecer esse castigo tão severo?

O pior não é você saber que terá sete anos de inhaca, mas, sim, que ficará se torturando mentalmente tentando adivinhar por quais provações terá que passar. Isso é o pior. Saber que está fadado à desgraça sem saber quais serão os castigos. Estava a ponto de cortar os pulsos com os retalhos do espelho. Lembrei que não adiantaria. Estava com azar. Portanto sobreviveria, mesmo com os pulsos cortados. Era capaz, ainda, de pegar uma infecção pelos cortes e ser hospitalizado. Cruz credo!

Foi aí que aconteceu. Não sei que mágica cósmica atuou a favor, só sei que fiquei e estou até agora surpreso com os fatos que se sucederam. Fui trabalhar. Voltei para casa e as coisas começaram a acontecer. Talvez porque, como já não estivesse numa situação geral muito boa, bati de ombros e pensei: o que são mais sete anos de azar se já estou fu... mesmo?

As forças cósmicas ocultas da infortuna e do sortilégio devem ter se compadecido de mim. As coisas e situações ao meu redor começaram a mudar de tal forma, que fui favorecido em vários assuntos e áreas da minha vida. Tudo de bom simplesmente começou vir até mim. Sem pedir. Sem forçar.

Estranho. Muito estranho. Penso que estava enfeitiçado. Ao quebrar o espelho o feitiço deve ter se rompido. Não discuto isso. Sorte minha ter quebrado o espelho. Mas por garantia, continuo não passando por debaixo de escada.

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