sábado, 28 de fevereiro de 2009

Ritual de acasalamento

Foto: Tânia Andrea
Tem uma coisa que adoro fazer. Divirto-me pra valer. Observar as pessoas. Como bom jornalista, tenho que saber ouvir e observar, mais do que falar. E olha que eu falo pelos cotovelos.

Sabe pavão quando está se exibindo para a pavoa no ritual de acasalamento? Pois bem, dia desses, melhor, noite dessas estava eu acompanhado – diga-se de passagem, muito bem acompanhado – num bar aqui em Porto Alegre. Saí pra tomar uma cerveja, digo, algumas cervejas. Então, estávamos eu e minha companhia bebericando alguns goles de uma gelada, conversando frivolidades, quando notei, em uma mesa a nossa frente, um casal (acho) sentado lado a lado na mesa.

Sempre fui meio contra sentar lado a lado com uma mulher. Seja em restaurante, bar ou banco de praça. No cinema vá lá. Afinal é para ver o filme que estamos lá. Ou não? Sentar frente a frente permite entrelaçamento de pernas enamoradas. Olhares e bocas insinuantes de um desejo de prolongamento da toalha do bar no lençol da cama. Além disso, é melhor de conversar, beijar, dar as mãos. Sentar de lado é para jurados. Concorda? Um do lado de outro e as pessoas a desfilar na sua frente no bar. Só faltam as placas com as notas.

Bom, voltando ao assunto, o rapaz e a menina estavam lado a lado, sentados, bebendo uma cerveja. Cochichei para minha companheira que ficássemos prestando atenção na dupla. O rapaz, moreno, magrinho, já havia acendido uma meia dúzia de cigarros. Fumava nervosamente. A menina, uma loirinha, bonita até, magrinha, tomava pausadamente sua cerveja. Eles estavam distantes um do outro. Logo constatei que não eram namorados, ainda. Fiquei mais curioso ainda com a cena. O rapaz, visivelmente afoito e nervoso não sabia como agir diante da menina. Ela, volta e meia, dava uma olhada de rabo de olho pra ele, mas sem coragem para fixar o olhar. Ele, de tão nervoso que estava bebia a cerveja rapidamente. Servia novo copo e não se preocupava em reabastecer o da moça.

Passados alguns minutos, ele foi se chegando para perto dela. Arrastou a cadeira. Ela retribuiu. Virou-se para ele. Eu e minha companheira ríamos sem parar, cuidando, obviamente, para não aparentar que o motivo de tamanha alegria era a cena que se desenrolava a nossa frente. Comecei a notar algo que sempre acontece quando um casal está se conhecendo e estão interessados mutuamente. A chamada linguagem não verbal. Se você, leitor, parar para olhar, notará que, quando um homem e uma mulher estão interessados um no outro, repetem inconscientemente os gestos do parceiro. Se ele coça a cabeça, ela passará a mão nos cabelos. Cruzada de perna de um lado, cruzada da mesma perna do outro. Se ele se debruçar à mesa, ela fará o mesmo. É instinto, inconsciente. É uma forma de aproximação. De dizer que o outro lhe agrada. Que você responde corporalmente a um estímulo de excitação proveniente da presença do outro.

Nessa hora me lembrei do pavão e seu ritual de acasalamento. O macho se empena todo para a fêmea para demarcar território. Mostrar que está ali e interessado nela. Caí na gargalhada. Imaginei o rapaz levantando da mesa e abrindo sua plumagem para a menina. Já pensou se tivéssemos penas! Depois iríamos cantar, provavelmente, como os galos no galinheiro. Tudo parte de um ritual de acasalamento. É por isso que um casal se aproxima. É instinto. Preservação da espécie. Como diria Martha Medeiros, é o jeito de cada um que atrai. O jeito. Isso mesmo. Nossa plumagem nada mais é do que como nos mostramos ao outro. Como no ritual de acasalamento do pavão.

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