
Ao entregar uma encomenda, no centro de Balneário Camboriú, para um amigo, e por já estar estressado com o engarrafamento típico dessa época do ano xinguei um motorista que estava com problemas no carro, por estar trancando o trânsito da rua. Incrível, na mesma hora me deu um aperto no peito. Sensação de ter feito algo muito errado. Depois de conseguir fazer seu carro funcionar novamente, o motorista passou por mim e disse:
- Pô cara! Eu já to todo fudido com o carro e tu ainda vem me xingar.
Fiquei quieto não reagi. Baixei a cabeça, envergonhado, como quando um pai ralha com o filho quando esse faz algo errado. Pois bem. Aquilo passou, comecei minha viagem de retorno. Ao chegar à cidade de Palhoça o trânsito parou. Ambulâncias passavam por mim, provavelmente mais um acidente na fatídica brioi (apelido carinhoso da BR 101).
Como o tráfego estava completamente parado, desliguei o carro e fiquei esperando a liberação da estrada. Alguns motoristas desceram dos seus automóveis e ficaram na volta da estrada tentando adivinhar o que havia acontecido.
Em determinado momento um desses motoristas apontou para o pneu do meu carro e olhou para mim. Desci do carro e fui até ele, que me disse que o pneu estava murcho. Olhei o pneu e como já sabia do problema de que aquele pneu murchava com freqüência não dei muita bola. Agradeci a atenção e voltei para dentro do carro.
Engraçado, seu anjo da guarda se manifesta de várias formas e maneiras. Aquela era uma. E eu não prestei atenção no seu aviso. Depois da estrada liberada segui viagem. Quase chegando a Porto Alegre aconteceu. Pneu furado. Aliás, furado era eufemismo. Completamente esgualepado. Mortinho. Sem esperança de ressuscitação. Eram quase onze horas da noite. Já troquei muito pneu, mas à noite, com certeza é muito mais complicado.
Enquanto trocava o pneu, incrivelmente me sentia completamente resignado com a situação. Como se soubesse que esse era o meu castigo pela atitude errada horas antes. O dia passava pela minha mente e eu relembrava do motorista e seu carro quebrado. Do xingamento. Do aviso de meu anjo da guarda horas antes. E sabe o que mais? Estava rindo daquilo tudo, por entender que aprendera a lição.
Lembrei também de uma pessoa muito especial. Ela dizia que existiam tarefas exclusivamente masculinas. E com certeza, trocar pneu estava entre elas. Foi bom isso ter acontecido. Fez eu me lembrar de alguém importante em minha vida e fez-me aprender, definitivamente, que o que bate, sempre, sempre, volta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário