domingo, 21 de dezembro de 2008

Bate e Volta

Você já ouviu a expressão bate e volta? Provavelmente já. Essa semana tive que viajar para SC num legitimo bate e volta. Fui num pé, voltei no outro como dizem. A BR 101 continua uma ma-ra-vi-lha. Você porto alegrense ao querer ir ao litoral catarinense passar o ano novo ou simplesmente passar suas merecidas férias no paraíso sulino terá que ter uma paciência budista para enfrentar o rali da 101. Desvios mal sinalizados, buracos, pista sem sinalização noturna entre outras coisas, são os fatores que fazem a aventura turística ficar mais emocionante. Pois bem, saí de noite aqui do rio grande do sul, cheguei na madruga. Até aí tudo bem. Dormi, acordei pela manhã, peguei uma praia. Estava um calor infernal. À tarde fiz o que tinha que fazer e peguei o caminho de volta. Antes, porém, fiz algo que me arrependeria profundamente horas depois.

Ao entregar uma encomenda, no centro de Balneário Camboriú, para um amigo, e por já estar estressado com o engarrafamento típico dessa época do ano xinguei um motorista que estava com problemas no carro, por estar trancando o trânsito da rua. Incrível, na mesma hora me deu um aperto no peito. Sensação de ter feito algo muito errado. Depois de conseguir fazer seu carro funcionar novamente, o motorista passou por mim e disse:

- Pô cara! Eu já to todo fudido com o carro e tu ainda vem me xingar.

Fiquei quieto não reagi. Baixei a cabeça, envergonhado, como quando um pai ralha com o filho quando esse faz algo errado. Pois bem. Aquilo passou, comecei minha viagem de retorno. Ao chegar à cidade de Palhoça o trânsito parou. Ambulâncias passavam por mim, provavelmente mais um acidente na fatídica brioi (apelido carinhoso da BR 101).
Como o tráfego estava completamente parado, desliguei o carro e fiquei esperando a liberação da estrada. Alguns motoristas desceram dos seus automóveis e ficaram na volta da estrada tentando adivinhar o que havia acontecido.

Em determinado momento um desses motoristas apontou para o pneu do meu carro e olhou para mim. Desci do carro e fui até ele, que me disse que o pneu estava murcho. Olhei o pneu e como já sabia do problema de que aquele pneu murchava com freqüência não dei muita bola. Agradeci a atenção e voltei para dentro do carro.

Engraçado, seu anjo da guarda se manifesta de várias formas e maneiras. Aquela era uma. E eu não prestei atenção no seu aviso. Depois da estrada liberada segui viagem. Quase chegando a Porto Alegre aconteceu. Pneu furado. Aliás, furado era eufemismo. Completamente esgualepado. Mortinho. Sem esperança de ressuscitação. Eram quase onze horas da noite. Já troquei muito pneu, mas à noite, com certeza é muito mais complicado.

Enquanto trocava o pneu, incrivelmente me sentia completamente resignado com a situação. Como se soubesse que esse era o meu castigo pela atitude errada horas antes. O dia passava pela minha mente e eu relembrava do motorista e seu carro quebrado. Do xingamento. Do aviso de meu anjo da guarda horas antes. E sabe o que mais? Estava rindo daquilo tudo, por entender que aprendera a lição.

Lembrei também de uma pessoa muito especial. Ela dizia que existiam tarefas exclusivamente masculinas. E com certeza, trocar pneu estava entre elas. Foi bom isso ter acontecido. Fez eu me lembrar de alguém importante em minha vida e fez-me aprender, definitivamente, que o que bate, sempre, sempre, volta.

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