domingo, 1 de junho de 2008

O último romântico


Domingo de sol em Porto Alegre. Acordo e a vejo ao meu lado. Dorme placidamente, o sono dos preguiçosos, também o sono dos justos. Seu rosto límpido parece-me tranqüilo e sereno, afinal, é feriado. Dou um beijo silencioso em seus lábios e, como a bela adormecida dos contos de fadas, vejo seus olhos de amêndoas abrirem lentamente, me fitando, e, logo em seqüência, sinto-me realizado: recebo um sorriso amoroso.

- Bom dia. Vamos?

Estava combinado, domingo em Porto Alegre é dia de brique. Parque da Redenção, feira de artesanato, várias tribos, várias culturas, antiguidades, namorados à grama. Desfile de cachorros, várias raças, doação de filhotes e por aí vai. Não pode faltar o chimarrão, bebida típica do povo gaúcho e principalmente de quem está fora do seu Estado há algum tempo.

O chimarrão é, por si só, a ferramenta mais simples de sociabilização do povo rio grandense. Basta olhar para o lado e lá está a cuia passando de mão em mão e amparando conversas, opiniões, idéias. Não podem faltar camisetas do Grêmio e do Internacional, afinal o gaúcho ou é gremista ou é colorado. Não tem terceira via, não tem meio termo.

De repente ouço: - Vamos comer um churros?

Nossa! Quanto tempo não comia algo tão saboroso. Não pela guloseima em si, mas pelo prazer de saboreá-la ao lado dela. Fotos, fotos e mais fotos. Levei minha câmera. Hobbie, quase profissão. Andar de mãos dadas, escolher os presentes que vamos levar para os amigos na Santa e Bela Catarina. Observamos as famílias, as crianças, fizemos nossos planos, de que, num futuro próximo, seremos nós a empurrar o carrinho do bebê, de jogar bola com nosso filhote, de pular corda com nossa filha. Rolar na grama, atirar a bolinha para nossos cachorros saírem correndo pela grama verde coberta das folhas caídas de uma manhã agradável de outono.

Estamos quase indo embora e de repente ouvimos um grito: - Pára tudo, pára, pára. Silêncio por favor! Grita um senhor, de aproximadamente 40 anos.

- Por gentileza senhora, diz o cidadão. E lá vem ela, na sua caminhada matinal, com uma leg preta que delineia sua silhueta esguia e seu corpo enxuto para uma mulher de uns 40 anos. Fica encabulada com a gentileza do homem, a elogiá-la efusivamente.

- Ganhou o dia, ganhou a caminhada, diz minha companhia.

Mas não acaba aí. Num devaneio fugaz, o homem atira-se aos pés da mulher e grita: - Passe por cima, pode pisar, estou a sua mercê, estou a seus pés.
Olho para minha “bee”(abelha em inglês, apelido carinhoso que coloquei nela; louca por doces) e penso: Que inveja desse homem, e eu que me achava o último romântico. Tenho muito que aprender
.

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