sábado, 11 de julho de 2009

Sinais dos Tempos





Sábado é dia de mercado. Super, como se diz por essas bandas. Agregado ao mesmo, shopping (invenção do século XX), e nele, praça de alimentação. Almoçar no shopping é algo, no mínimo, curioso. Famílias inteiras, até três gerações, reunidas nas mesas que nem sequer lembram os alegres e efusivos encontros de final de semana na casa da vó.

Aliás, a mesma está lá, sentada na ponta da mesa, como manda a boa tradição matriarcal. No prato, McDonalds, Milk shake. No olhar, o pensamento e a lembrança de um aroma e sabor de uma bela macarronada ou uma costela gorda. Em outra mesa, uma senhora, talvez 70 ou mais, saboreando uma bib esfiha. Risonha, despreocupada, conversa, animadamente, com as colegas, duas ou três, aparentando a mesma idade.

Praça de alimentação virou refúgio familiar. Por que gastar tempo e dinheiro espetando carne ou cozinhando massa, batendo bolo ou a maionese? Em cinco minutos tudo está ao seu alcance. Como um passe de mágica. Ao redor, 360 graus de variedades, massas, grelhados, tortas, sanduiches, comida chinesa. Sem reclamação dos netos que preferiam comer batata frita à alface. Ilhas de felicidade. De encontros familiares.

Chapéu à mesa era condenação. Direto para o inferno. Sem parada no purgatório. Usá-lo era constrangedor. Pecado contra a santa ceia do Senhor. Era. Não é mais. Centenas de cabeças desfilam bonés e chapéus coloridos na praça, a lembrar dia de praia e os guarda-sóis multicores espalhados na orla. Ninguém mais se lembra do ritual. Caído no esquecimento. Deixado de lado no dia em que a vó foi ao shopping.

Paradoxalmente, casais ainda sentam lado a lado, ou frente a frente, conforme o gosto. À esquerda uma menina sentada na cadeira e cruzado com ela um rapaz. Até isso mudou? Casais sentados em diagonal? Estranho. Ao levantarem-se não se dão as mãos. Amigos, talvez. Partem lado a lado, conversando. Amigos. Como se fosse proibido a amigos sentarem frente a frente, ou lado a lado. O que dirão os conhecidos? E se a namorada(o) dele(a), chegar e ver a cena? Fim, com certeza. A intimidade de amigos não resiste à mesa de um shopping. A mesma mesa que guarda a intimidade das famílias.

Sinais dos tempos.



Um comentário:

Barbara disse...

Sinal dos tempos em que comer, dormir, namorar, conversar, conviver, não é mais interessante.
Quando nada é ritualístico nem na imaginação, tudo empobrece.
Postagem ótima, ótima observação sua , sobre as pobrezas do existir nesses tempos na verdade, sem sinal algum.
Apenas códigos.